terça-feira, 28 de abril de 2020

Resenha do single Praxis no blog The Atmosphere - Março-2020






As Dramatic Homage - Praxis - Single -2020
Resenha por :  Bruno Rocha

Os cariocas do As Dramatic Homage estão de volta após dois anos com um novo single, Praxis. Musicalmente, este single está conectado ao anterior, Consternation (2018), como Praxis fosse uma continuação, ou um epílogo, de Consternation, tendo em vista que o novo single possui uma abordagem completamente introspectiva, quase que desprovida de distorções e até mesmo de bateria.

Quando a banda surgiu, em 1999, a proposta de Alexandre Pontes (vocais, guitarras, programação) e companhia era de praticar um misto de Black e Doom Metal, algo que foi se tornando mais complexo e variado com o passar dos anos até atingir um nível que os classifica hoje como um ato de Metal Progressivo, apesar de elementos de Metal extremo, notadamente de Doom, terem sido retidos. Esta evolução musical foi necessária a fim de acompanhar e emoldurar com precisão os questionamentos filosóficos e existenciais presentes nas letras. Os arranjos mais ricos e introspectivos servem como um canal para que os pensamentos sejam absorvidos com maior facilidade; junto a eles, as passagens pesadas e mais velozes servem para nos lembrar que a banda toca, em sua essência pétrea, Heavy Metal.

Porém, Praxis surge despido de quaisquer elementos musicais de peso ou de distorções. As duas faixas que compõem o single são acústicas e com acompanhamento somente de teclados tímidos, mas pontuais. ISRS, a faixa instrumental que abre os trabalhos, traz um clima melancólico em sua levada de violão e no timbre do teclado que o acompanha que fazem jus ao significado de seu título (Inibidor Seletivo de Recaptação de Serotonina). Para quem não conhece, “serotonina” é um neuro-transmissor que, dentre outras funções, possui atividades relacionadas à regulação do humor. O déficit de serotonina no organismo é um facilitador de desenvolvimento de doenças como a depressão.

A faixa-título traz em sua letra o conceito de “práxis”, usado em diversos campos do conhecimento para definir a sequência entre finalidades teóricas e os resultados práticos. Dentro da proposta filosófica do As Dramatic Homage, o “práxis” é tratado como um estimulante para que as pessoas saiam de seu comodismo e passem a agir para que novos e satisfatórios resultados aconteçam em suas vidas. Musicalmente, a música me parece um encontro do 40 Watt Sun com alguma banda Prog setentista, dado o andamento sofrido criado pelos violões que contrastam com a beleza calmante do refrão. Uma distorção na verdade aparece, em um curto solo de guitarra na metade, tocado pelo músico convidado Alexandre Carreiro, antes que um trecho bastante lento no violão acompanhe um teclado de timbre lúgubre. A interpretação de Alexandre Pontes nos vocais é tocante e correta, somente com a ressalva de que ele poderia se aprimorar ainda mais na pronúncia do inglês. Mas isto é algo que só importará a quem é fluente na língua, pois a interpretação do cantor e a música em si falam conseguem falar ao interior do ouvinte sem a obrigação de usar como vetor um idioma específico.

Praxis foi gravado no HCS Estúdio, no Rio de Janeiro, e teve produção do próprio Alexandre Pontes, que soube dosar com clareza e inteligência a participação de cada um dos instrumentos nas músicas de modo a transmitir com clareza ao ouvinte a mensagem das mesmas. Para ilustrar com tamanha precisão a mensagem que Praxis transmite, o artista Gustavo Sazes elaborou uma arte capaz de simplesmente congelar aquele que o contempla.

Com Praxis, o As Dramatic Homage mostra mais uma vez que é uma banda importante e diferenciada dentro do cenário nacional. Sem medo de tentar e, principalmente, de ousar, a banda nos apresenta métodos criativos não somente dentro de arranjos ou de harmonias, como também em suas letras que instigam o ouvinte a pensar e a refletir. Praxis é mais uma peça do complexo e inquieto quebra-cabeça do As Dramatic Homage. Um quebra-cabeça que, verdadeiramente, não se acaba. Ele se estende até onde a imaginação alcança, e a imagem que ele cria não segue necessariamente um padrão, mas obedece à intepretação sonora e plástica daquele que o monta.





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