As Dramatic Homage - Praxis - Single -2020
Resenha por
: Bruno Rocha
Os cariocas
do As Dramatic Homage estão de volta após dois anos com um novo single, Praxis.
Musicalmente, este single está conectado ao anterior, Consternation (2018),
como Praxis fosse uma continuação, ou um epílogo, de Consternation, tendo em
vista que o novo single possui uma abordagem completamente introspectiva, quase
que desprovida de distorções e até mesmo de bateria.
Quando a
banda surgiu, em 1999, a proposta de Alexandre Pontes (vocais, guitarras,
programação) e companhia era de praticar um misto de Black e Doom Metal, algo
que foi se tornando mais complexo e variado com o passar dos anos até atingir
um nível que os classifica hoje como um ato de Metal Progressivo, apesar de elementos
de Metal extremo, notadamente de Doom, terem sido retidos. Esta evolução
musical foi necessária a fim de acompanhar e emoldurar com precisão os
questionamentos filosóficos e existenciais presentes nas letras. Os arranjos
mais ricos e introspectivos servem como um canal para que os pensamentos sejam
absorvidos com maior facilidade; junto a eles, as passagens pesadas e mais
velozes servem para nos lembrar que a banda toca, em sua essência pétrea, Heavy
Metal.
Porém,
Praxis surge despido de quaisquer elementos musicais de peso ou de distorções.
As duas faixas que compõem o single são acústicas e com acompanhamento somente
de teclados tímidos, mas pontuais. ISRS, a faixa instrumental que abre os
trabalhos, traz um clima melancólico em sua levada de violão e no timbre do
teclado que o acompanha que fazem jus ao significado de seu título (Inibidor
Seletivo de Recaptação de Serotonina). Para quem não conhece, “serotonina” é um
neuro-transmissor que, dentre outras funções, possui atividades relacionadas à regulação
do humor. O déficit de serotonina no organismo é um facilitador de
desenvolvimento de doenças como a depressão.
A
faixa-título traz em sua letra o conceito de “práxis”, usado em diversos campos
do conhecimento para definir a sequência entre finalidades teóricas e os
resultados práticos. Dentro da proposta filosófica do As Dramatic Homage, o
“práxis” é tratado como um estimulante para que as pessoas saiam de seu
comodismo e passem a agir para que novos e satisfatórios resultados aconteçam
em suas vidas. Musicalmente, a música me parece um encontro do 40 Watt Sun com
alguma banda Prog setentista, dado o andamento sofrido criado pelos violões que
contrastam com a beleza calmante do refrão. Uma distorção na verdade aparece,
em um curto solo de guitarra na metade, tocado pelo músico convidado Alexandre
Carreiro, antes que um trecho bastante lento no violão acompanhe um teclado de
timbre lúgubre. A interpretação de Alexandre Pontes nos vocais é tocante e
correta, somente com a ressalva de que ele poderia se aprimorar ainda mais na
pronúncia do inglês. Mas isto é algo que só importará a quem é fluente na
língua, pois a interpretação do cantor e a música em si falam conseguem falar
ao interior do ouvinte sem a obrigação de usar como vetor um idioma específico.
Praxis foi
gravado no HCS Estúdio, no Rio de Janeiro, e teve produção do próprio Alexandre
Pontes, que soube dosar com clareza e inteligência a participação de cada um
dos instrumentos nas músicas de modo a transmitir com clareza ao ouvinte a
mensagem das mesmas. Para ilustrar com tamanha precisão a mensagem que Praxis
transmite, o artista Gustavo Sazes elaborou uma arte capaz de simplesmente
congelar aquele que o contempla.
Com Praxis,
o As Dramatic Homage mostra mais uma vez que é uma banda importante e
diferenciada dentro do cenário nacional. Sem medo de tentar e, principalmente,
de ousar, a banda nos apresenta métodos criativos não somente dentro de
arranjos ou de harmonias, como também em suas letras que instigam o ouvinte a
pensar e a refletir. Praxis é mais uma peça do complexo e inquieto
quebra-cabeça do As Dramatic Homage. Um quebra-cabeça que, verdadeiramente, não
se acaba. Ele se estende até onde a imaginação alcança, e a imagem que ele cria
não segue necessariamente um padrão, mas obedece à intepretação sonora e
plástica daquele que o monta.
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